
O Estádio Nacional, palco habitual da final da Taça de Portugal, recebeu a tão aguardada partida entre os dois finalistas daquela que é apelidada de grande festa do futebol. Benfica e Sporting, que este ano lutaram até ao fim pelo campeonato, com o triunfo a sorrir ao emblema de Alvalade, protagonizaram um duelo nem sempre empolgante, mas intenso e mesmo dramático, com a habitual polémica da arbitragem à mistura. “As finais são para se ganhar”, referiu um dia José Mourinho, antigo técnico do FC Porto e atualmente a orientar os turcos do Fenerbahçe. E assim foi, o Sporting não fez um jogo perfeito, mas lá conseguiu a dobradinha, proeza que lhe fugia há 23 anos.
Os leões voltaram a fazer a festa, novamente com o enorme contributo do “bombardeiro” Viktor Gyokeres, que apontou o golo do empate mesmo nos últimos segundos do tempo regulamentar e que levou o jogo para prolongamento. O atacante sueco, que estará de partida para os londrinos do Arsenal, não tremeu na marcação da grande penalidade, depois de ter sido derrubado, sem margem para dúvidas, pelo internacional português Renato Sanches. A vantagem do Benfica, alcançada aos 47 minutos pelo avançado turco Orkun Kokçu, era assim desfeita numa altura em que os benfiquistas estavam quase a fazer a festa. Foi uma questão se escassos segundos, pois logo a seguir o árbitro Luís Godinho deu por concluído o dramático encontro, seguindo-se o prolongamento que tombou os encarnados, com o dinamarquês Conrad Harder e o português Francisco Trincão a carimbarem os golos com que o Sporting bateu o seu grande rival de Lisboa.
Di María com despedida amarga
O astro argentino Ángel Di María, à partida tido como um dos titulares para esta partida, acabou por ser relegado para o banco pelo treinador Bruno Lage. De saída do Benfica, conforme o próprio anunciou recentemente nas redes sociais – resta-lhe a participação no Mundial de Clubes, competição que se disputa no próximo mês de junho nos Estados Unidos -, o jogador sul-americano teve um dia para esquecer. Lançado a jogo apenas no prolongamento, aos 103 minutos, ainda tentou a sorte com um ou outro remate de fora da área, mas nada lhe correu bem. Completamente desolado, Di María saiu em lágrimas do relvado no final do encontro, uma imagem cruel repetidas vezes visionada, por muitos considerada uma humilhação no dia da despedida dos adeptos que o idolatram.
Perdida a Liga Portugal precisamente para o Sporting e agora a Taça de Portugal, resta saber se Bruno Lage permanecerá à frente da equipa. A contestação é muita, mas a última palavra caberá ao presidente Rui Costa, também ele alvo de críticas, pois nos quatro anos que já leva na liderança do clube da águia apenas conquistou um título. Para outubro próximo está agendado o ato eleitoral e os candidatos começam a perfilar-se, pelo que o ambiente poderá não ser muito propício à recandidatura do antigo futebolista a quem apelidaram de “maestro”, dada a classe inteligência como conduzia as jogadas na zona intermediária do campo.
Não sendo muito comum ver Rui Costa a comentar as arbitragens, desta feita dirigiu-se aos jornalistas no final do encontro e foi muito duro nas críticas. Com efeito, o Benfica teve razões de queixa, especialmente num lance ocorrido no prolongamento (90+4 minutos) quando o dianteiro italiano Andrea Belloti foi nitidamente agredido por dois jogadores do Sporting, primeiro com uma cotovelada e depois com um pisão propositado na cabeça. O árbitro não viu, os seus auxiliares também não, mas era obrigação do vídeo-árbitro ter chamado a atenção para que o juiz da partida fosse visionar as imagens do aparatoso lance. Rui Costa queixou-se ainda de uma cotovelada ao capitão argentino Otamendi, que poderia valer a expulsão do “agressor”, ainda que neste caso a situação não tenha sido tão evidente como a anterior.
Feitas as contas no final da partida, o Sporting, que não vencia desde 2018/19, carimbou a sétima dobradinha da sua história, 23 anos depois, e manteve o terceiro lugar, com 18 títulos, atrás do Benfica, com 26, o último em 2016/17, e do FC Porto, com 20. A festa do futebol voltou a sorrir aos leões num ano de muitas atribulações, depois da saída do técnico Ruben Amorim para o Manchester United. Após uma curta e falhada experiência sob o comando de João Pereira, logo a seguir ao Natal de 2024, Rui Borges, contratado ao Vitória de Guimarães, pegou na batuta – nunca tinha ganho um título na sua carreira – e alcançou a tão desejada dobradinha para a formação de Alvalade.
Rui Borges (treinador do Sporting): “Esta equipa é e será sempre isto. Têm muita inspiração e demonstram-na, mas têm uma atitude competitiva acima da média. Deixa-me muito orgulhoso porque nada me foi dado. Nunca ganhei nada nos outros clubes por onde ei, por isso não foi por troféus que vim para o Sporting. Vim porque olharam para nós enquanto líderes competentes, com boas ideias. Orgulha-me de olharem para mim e dizerem que sou boa pessoa.”
Bruno Lage (treinador do Benfica): “Agradeço o apoio dos adeptos, foram fantásticos do início ao fim. Tenho orgulho nos meus jogadores. Fomos a melhor equipa em campo. Não queria falar do árbitro, mas tenho de dizer que errou, já que não manteve o critério. Há um amarelo que não foi mostrado ao capitão do Sporting e uma situação caricata com o Belotti. Assumo a responsabilidade, vim para ser solução e nunca serei um problema para o Benfica.”
